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Reflexão do Padre Leandro Pinheiro para abertura da Campanha da Fraternidade Ecumênica 2021
02/03/2021

O Padre Leandro Pinheiro, Diretor do Colégio Salesiano Leão XIII, foi o representante responsável pela reflexão da Diocese do Rio Grande na Abertura Oficial da Campanha da Fraternidade Ecumênica 2021. Acompanhe a transcrição da reflexão:


A Campanha da Fraternidade deste ano nos traz um tema muito relevante e profundamente evangélico: o DIÁLOGO como compromisso de AMOR. São duas palavras-chave que devem transcender toda a nossa compreensão do tema:

 O AMOR é uma atitude

 A herança de Jesus aos seus seguidores, presente em todas as suas palavras, ações, opções.

DIÁLOGO é uma ação de reciprocidade

Falar e escutar se complementam mutuamente – uma exige a outra

O diálogo verdadeiro é permeado pela abertura e pelo respeito

O diálogo exige conhecimento de causa ou pelo menos um desejo de aprender.

O Catecismo da Igreja Católica, citando a Gaudium et Spes, abre o capítulo sobre a Profissão de fé dizendo: “Desde o começo da sua existência, o homem é convidado a dialogar com Deus”. Que tipo de diálogo trava o homem com Deus? Que tipo de diálogo deve, o homem que faz uma experiência de Deus, travar com seus irmãos? São perguntas que certamente transcendem o tema que a Campanha da Fraternidade quer abordar.

 

              Um diálogo de amor nos é apresentado como um ícone permanente no Texto-base. A caminhada de Jerusalém a Emaús, narrada por Lucas, é a demonstração de como um diálogo bem conduzido valoriza a realidade e incendeia o coração de quem dele participa.


              Os discípulos carregam a sua verdade e a sua experiência. Tristes e decepcionados com tudo o que não viram e queriam, do fundo do coração, ver. O estranho Jesus começa a acompanhá-los, e lança uma pergunta, que permite aos discípulos falarem sobre o que sentem. Jesus escuta atento e os discípulos falam. Jesus respeita, não interrompe, não impõe. Só depois que ouve tudo, se preocupa em explicar... mas não como verdade absoluta, simplesmente relacionando experiências. O diálogo é tão frutuoso que deseja ser continuado... e o sentido verdadeiro desse diálogo se dá quando as palavras se transformam em gesto: partir o pão, sentir o coração arder e voltar para juntos dos demais.


Um diálogo conduzido com amor deve naturalmente levar à verdade. Uma verdade que não é de livros, de leis,... mas uma verdade que revela uma experiência profunda com Deus.

 

              Todos sabemos que DIALOGAR é uma verdadeira arte. Entre os próprios discípulos e, por conseguinte, nas primeiras comunidades, o diálogo foi a ferramenta fundamental para garantir a paz e a unidade. Paulo, nas suas fundações, escolheu grandes pólis – portos, centros comerciais, cidades de trânsito. Podemos facilmente imaginar a diversidade de pessoas que aí se encontravam e quantos diálogos aconteciam e precisavam acontecer...


              Esse é o contexto no qual as primeiras comunidades cristãs se formam. As pessoas se encantam com a mensagem de Jesus, se deixam tocar pelo Evangelho... mas, demoram a superar divisões que estão muito aquém dessa mensagem. No âmbito da fé, havia uma divisão profunda: os judeus e os gentios – ou pagãos. De certa forma, os primeiros achavam-se superiores aos segundos porque tinham uma base de fé e conhecimento. E as divergências aconteciam dentro do lugar onde menos deveriam acontecer – a comunidade.


              Se hoje nossas comunidades ainda parecem dividir-se em tantos assuntos, polêmicas, polaridades... Se vemos tanto gasto de energia com discussões que nos afastam do essencial, temos a certeza de que esta campanha é fundamentalmente necessária. Nosso compromisso como cristãos é a promoção do diálogo: é a abertura ao diferente, ao diverso, àquele que por vezes não pensa exatamente como nós, mas que certamente tem algo em comum que nos faz aproximar – e não afastar. Impossível não lembrar o Papa Francisco com a sua “cultura do encontro”.


              O que une uma comunidade dividida? Que ponto comum é este que nos aproxima? Num olhar de fé, a resposta é única: JESUS CRISTO! É Ele quem conduz à unidade. É Ele o centro dos nossos diálogos, o assunto principal, o modo e a meta do nosso entendimento. Para muito além das divisões das primeiras (e atuais!) comunidades, nós somos chamados a uma vivência profunda dos valores evangélicos, que incluem a capacidade de acolher, de ouvir, de orientar, de dialogar... Talvez seja esse o grande testemunho que os cristãos de hoje são chamados a dar. “Cristo é a nossa paz: do que era dividido, fez a unidade”. A unidade é um sinal da bondade de Deus, de um Deus que reúne, que agrega, que quer todos juntos de si.


              Ecumenismo, que nas origens remete a “habitar a mesma casa”, trata-se um desafio ainda a ser vivido por nós. Quem habita a mesma casa, sabe que cada um tem o seu jeito, a sua personalidade, as suas manias... Mas entende que há algo muito maior do que isso. Desejo que esse compromisso do diálogo seja abraçado por nós em nome de um Cristo que “veio para reunir os seus que estavam dispersos” e que nosso testemunho cristão seja de um diálogo não só aberto, mas franco e amoroso.


Deus nos abençoe, e o Espírito Santo nos dê o dom do discernimento e da sabedoria, para vivermos com fidelidade os ensinamentos de Jesus.

 

Padre Leandro Brum Pinheiro, SDB