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40ª Assembleia de Pastoral: Para Dom Jaime Spengler a sinodalidade desafia a essencialidade da fé
07/12/2021

Um momento especial na 40ª Assembleia Diocesana de Pastoral foi a Conferência Virtual com Dom Jaime Spengler, arcebispo metropolitano de Porto Alegre. Convidado para tratar sobre a Sinodalidade na Igreja, ele recordou que a prática sinodal foi resgatada por Paulo VI, com o espírito e método do concílio, e depois aperfeiçoada por João Paulo II e Bento XVI até chegar ao Papa Francisco. Ele entende que, como avaliou o cardeal Martini, na década de 90, sobre a Igreja estar 20 anos atrasada na época, ainda hoje é possível sentir um choque de mentalidade em alguns ambientes, com alguns mais, outros menos próximos do Evangelho.  

 

Muito já foi dito da sinodalidade na Igreja, sobre um modo de caminhar juntos, acertar os passos, seguir a mesma passada, não só como instituição, mas principalmente como caminhada de fé. Porém, para Dom Jaime, embora seja um conceito fácil de expressar em palavras, nem tanto de colocar em prática. “Alguns grupos criticam duramente essa participação sinodal, pela qual todos estão em escuta do Espírito de Deus, da verdade, para conhecer, perceber, acolher aquilo que Ele está dizendo para as igrejas”, revelou.

 

Segundo o arcebispo de Porto Alegre, o espírito sinodal sempre esteve presente na vida ordinária da Igreja, nas reuniões, assembleias, encontros e conselhos, mas não para chancelar decisões e, sim, para participar e opinar. Na sua opinião, isso exige algo muito simples, que é o senso de pertença e de corresponsabilidade de todos para a comunidade de fé que possui uma identidade. “Mas o senso de fé impede que faça uma separação entre a Igreja que ensina e a Igreja que aprende”, ponderou.

 

 Por não ser um capricho canônico, mas, sim, uma oportunidade de exercício da identidade da comunidade de fé, Dom Jaime destacou a necessidade da existência de todas as dimensões que identificam uma autêntica comunidade de fé, ou seja: Anúncio; Liturgia; Caridade; Comunhão e Testemunho. “Como isso reflete também na vida da sociedade como um todo, a sinodalidade nos desafia, nos sacode, pois estamos sendo recordados da essencialidade da fé”, lembrou o arcebispo, para quem o caminho pode ser longo, pois não basta apenas seguir, sem refletir nem pensar.

 

Ele considerou que, para muitos, o que importa é apenas a prática religiosa, como por exemplo, ir à missa todo domingo, mas sem uma experiência de fé vivida em uma comunidade. “Contudo, a fé cristã é essencialmente comunitária”. Já outros, como alertou Dom Jaime, pensam que os leigos não têm nada a dizer, só os padres e religiosos. Existe uma falta do hábito de caminharmos juntos e acertarmos os passos. “Portanto, essa oportunidade do Papa é muito rica, exige paciência, capacidade de escuta e muita humildade, uma docilidade do Espírito de Deus. Não é tarefa fácil, tem que ser com o Evangelho nas mãos, olhos fixos na cruz e pés fixos na história. Às vezes somos muito misseiros para cumprir o rito e pouco estudamos o Evangelho. E nossa missão na Igreja é evangelizar”, frisou.

 

Na conferência, destacou ainda que o Sínodo implica na vida íntima de cada pessoa, em um percurso de efetivo discernimento espiritual e de escuta que exigirá um encontro consigo e com Deus; a renúncia da própria vontade para a vontade de Deus; a busca para aquilo que cada um se sente instigado, além da capacidade de diálogo entre irmãos. “Para que o processo dê frutos sadios, devemos prever o que o Espírito está solicitando de nós nesse momento. Com muita oração, orientados pelo Evangelho e muita disponibilidade e diálogo, é um privilégio participar desse novo que desejamos”.

 

Não é por acaso que o Sínodo tem sido considerado como o maior processo de sondagem já realizado em toda a humanidade. “Talvez não seja confortável, reconheceu Dom Jaime, mas certamente um processo capaz de tornar nossas comunidades um pouco mais vivas e estimuladas”. Pois, como salientou, a Igreja não pode ser uma realidade estática, embasado nas próprias palavras do Mestre: “Eu vim para que todos tenham vida e vida em abundância” (Jo 10,10).